Relatório técnico e educativo – Medicina do Esporte
Introdução
Os meniscos são estruturas fundamentais para o bom funcionamento do joelho. Localizados entre o fêmur e a tíbia, atuam como amortecedores, distribuem carga, estabilizam a articulação e protegem a cartilagem. Lesões meniscais são comuns em todas as faixas etárias e estão entre os principais motivos de dor e limitação no joelho, especialmente em atletas.
Anatomia e Função dos Meniscos
O joelho possui dois meniscos:
• Menisco medial (interno): em forma de “C”, mais fixo e frequentemente lesionado.
• Menisco lateral (externo): em forma de “O”, mais móvel, sofre mais em traumas agudos.
Funções principais:
• Amortecimento de impacto
• Estabilização secundária (especialmente na ausência do LCA)
• Lubrificação e nutrição da cartilagem
• Propriocepção
Epidemiologia e Incidência
• Representam 15% a 20% das lesões articulares do joelho em consultórios ortopédicos.
• Cerca de 35% das lesões de LCA têm lesão meniscal associada no momento agudo.
• No esporte, lesões traumáticas ocorrem em atletas jovens; em pacientes acima dos 40 anos, são mais comuns lesões degenerativas.
Mecanismos de Lesão
a) Lesão Traumática (jovens/atletas):
• Movimentos de torção com o pé fixo
• Aterrissagem incorreta
• Trauma direto no joelho
• Associada com frequência à lesão do LCA
b) Lesão Degenerativa (adultos/idosos):
• Degeneração progressiva da cartilagem meniscal
• Movimentos banais do dia a dia (ex: agachar, levantar)
• Sobrepeso e desalinhamentos favorecem a degeneração
Tipos de Lesões Meniscais
A classificação depende do formato, localização e cronicidade da lesão.
a) Por formato:
• Longitudinal (vertical): mais comum em traumas e potencialmente reparável
• Radial: perpendicular às fibras, afeta distribuição de carga
• Horizontal: comum em lesões degenerativas
• Em alça de balde (bucket-handle): desvio do fragmento meniscal para dentro da articulação, causando travamento
• Flap (aba): parte do menisco se solta parcialmente
• Complexa: combina mais de um tipo de padrão
b) Por localização:
• Terço periférico (zona vermelha): melhor vascularização, maior chance de cicatrização
• Terço intermediário (zona vermelho-branca): vascularização limitada
• Terço central (zona branca): avascular, sem capacidade de cicatrização espontânea
Quadro Clínico
Os sintomas variam conforme o tipo de lesão:
• Dor localizada (geralmente medial ou lateral)
• Edema (mais comum em lesões traumáticas)
• Estalidos ou sensação de “click”
• Travamento do joelho (típico da lesão em alça de balde)
• Instabilidade subjetiva
• Redução da amplitude de movimento
Diagnóstico
a) Avaliação clínica:
• Histórico de trauma ou dor progressiva
• Testes específicos:
• Teste de McMurray
• Teste de Apley
• Teste de Thessaly
b) Exames de imagem:
• Ressonância magnética é o exame padrão-ouro
• Avalia o padrão da lesão, localização e estruturas associadas (LCA, cartilagem)
Tratamento
O tratamento depende da idade do paciente, tipo de lesão, sintomas e demanda funcional.
a) Conservador:
Indicado para:
• Lesões pequenas, estáveis, assintomáticas
• Lesões degenerativas em pacientes não ativos
Inclui:
• Fisioterapia (fortalecimento, equilíbrio e reeducação neuromuscular)
• Medidas analgésicas e anti-inflamatórias
• Modificação de atividade
b) Cirúrgico:
Realizado por artroscopia com duas abordagens principais:
- Sutura meniscal (reparo):
• Preserva o menisco
• Indicado em lesões periféricas com boa vascularização (zona vermelha)
• Preferida em pacientes jovens e atletas
• Melhora o prognóstico a longo prazo - Meniscectomia parcial:
• Remoção apenas do fragmento lesionado
• Rápida recuperação, mas com maior risco de sobrecarga da cartilagem - Meniscectomia total (evitada):
• Só em casos extremos
• Aumenta significativamente o risco de artrose precoce - Transplante meniscal:
• Indicado em pacientes jovens com meniscectomia total prévia e dor persistente
• Utiliza menisco de banco de tecidos
Lesões Associadas
• LCA: Lesão meniscal está presente em até 80% dos casos de lesão aguda do LCA
• Condropatias: Degeneração da cartilagem que agrava o prognóstico
• Lesões do canto posteromedial/lateral: Aumentam a instabilidade
Prognóstico
O prognóstico depende de:
• Tipo de tratamento (conservador, reparo ou meniscectomia)
• Localização e padrão da lesão
• Idade e demanda funcional do paciente
• Aderência ao protocolo de reabilitação
Retorno ao esporte:
• Reparo meniscal: 4 a 6 meses
• Meniscectomia parcial: 4 a 8 semanas
• Lesões degenerativas: depende do controle sintomático
Complicações possíveis
• Recidiva da lesão
• Não cicatrização da sutura
• Artrose precoce (principalmente após meniscectomia total ou parcial extensa)
• Sinovite crônica
• Rigidez articular
Considerações finais
Os meniscos são estruturas cruciais para a proteção da cartilagem e estabilidade do joelho. A decisão entre tratar conservadoramente ou cirurgicamente deve ser baseada em uma avaliação cuidadosa e individualizada. Sempre que possível, a preservação meniscal deve ser priorizada para garantir a longevidade articular e evitar o desgaste precoce da articulação..