A ruptura proximal do cabo longo do bíceps é uma lesão relativamente comum, especialmente em adultos acima dos 40 anos. Ela pode causar dor no ombro, perda de força e uma deformidade característica no braço, conhecida como “sinal do Popeye”. Em muitos casos, o tratamento pode ser conservador, mas em outros — especialmente em pacientes ativos — a cirurgia é indicada.
Anatomia: o que é cabo longo de bíceps?
O músculo bíceps braquial possui dois tendões na sua origem (por isso o nome “bíceps”):
• Cabeça longa (ou cabo longo): passa por dentro da articulação do ombro e se insere no lábio superior da glenoide.
• Cabeça curta: se insere no processo coracoide da escápula.
A ruptura geralmente ocorre na porção proximal da cabeça longa, dentro do ombro, e está muitas vezes associada a outras lesões, como tendinite do bíceps, síndrome do impacto, lesões do manguito rotador ou lesão SLAP.
Causas da ruptura do cabo longo dos bíceps
• Degeneração crônica do tendão (uso repetitivo ao longo dos anos)
• Movimentos repetitivos acima da cabeça (esportes ou trabalho físico)
• Inflamação associada a tendinites ou impactações
• Lesões agudas (levantamento de peso brusco ou trauma direto)
• Lesões associadas ao manguito rotador
Quais são os sintomas?
• Dor súbita na parte anterior do ombro, muitas vezes descrita como um “estalo” seguido de alívio parcial da dor
• Deformidade visível no braço, chamada “sinal do Popeye”, onde o músculo parece “descer”
• Fraqueza em movimentos de flexão do cotovelo e supinação do antebraço (como virar a palma da mão para cima)
• Em alguns casos, dor residual no ombro ou sensação de instabilidade
Como é feito o diagnóstico?
Avaliação clínica:
• Inspeção visual: o sinal do Popeye pode ser evidente
• Palpação: ausência do tendão no sulco bicipital
• Testes específicos: como o Speed test e o Yergason test ajudam a identificar a dor no tendão antes da ruptura
Exames de imagem:
• Ultrassonografia: útil, mas depende da experiência do examinador
• Ressonância magnética: exame mais preciso para confirmar a ruptura e avaliar lesões associadas, como do manguito rotador
Qual é o tratamento para ruptura proximal do cabo longo de bíceps?
Tratamento conservador (sem cirurgia):
Indicado em:
• Pacientes mais idosos ou com baixa demanda funcional
• Casos em que a dor melhora e a função do braço se mantém satisfatória
Inclui:
• Analgésicos e anti-inflamatórios
• Fisioterapia para fortalecimento compensatório e reequilíbrio muscular
• Monitoramento da evolução clínica
Obs.: A deformidade (“Popeye”) pode persistir, mas geralmente é apenas estética, sem grande prejuízo funcional.
Tratamento cirúrgico:
Indicado em:
• Pacientes jovens ou ativos (atletas, praticantes de musculação)
• Dor persistente no sulco bicipital ou prejuízo funcional importante
• Desejo estético de corrigir a deformidade
Técnicas cirúrgicas:
• Tenotomia: simples liberação do tendão — pode ser suficiente em pacientes de baixa demanda
• Tenodese do bíceps: reinserção do tendão do bíceps em outro local (geralmente no úmero). É o método preferido para manter a força e a estética, especialmente em pacientes ativos
A cirurgia pode ser feita por artroscopia ou técnica aberta, com excelentes resultados.
Prognóstico
A maioria dos pacientes tem boa evolução, com ou sem cirurgia. Nos casos tratados conservadoramente, a força pode ser parcialmente preservada, embora a deformidade estética permaneça. Já a cirurgia (tenodese) costuma restaurar a força e corrigir a aparência, sendo mais indicada em pacientes jovens, esportistas ou queixosos com a deformidade.
Conclusão
A ruptura do cabo longo do bíceps é uma lesão comum, geralmente associada ao desgaste dos tendões do ombro. O diagnóstico é clínico, com confirmação por imagem, e o tratamento deve ser individualizado de acordo com a idade, demanda funcional e queixas do paciente. A boa notícia é que, com o acompanhamento adequado, a maioria dos casos evolui bem.