A síndrome do impacto subacromial é uma das causas mais comuns de dor no ombro, especialmente em adultos ativos. Ela ocorre quando os tendões do manguito rotador e/ou a bursa subacromial sofrem atrito ou compressão ao passarem sob o acrômio — uma projeção óssea da escápula localizada acima da articulação do ombro.
Essa síndrome, quando não tratada, pode evoluir para lesões mais graves, como tendinites crônicas, bursite ou até rupturas do manguito rotador.
O que é o impacto subacromial?
Durante os movimentos do braço, especialmente quando o elevamos acima da cabeça, os tendões do manguito rotador e a bursa precisam deslizar suavemente sob o arco formado pelo acrômio, ligamento coracoacromial e extremidade distal da clavícula.
Na síndrome do impacto, esse espaço fica reduzido, comprimindo essas estruturas — o que causa dor, inflamação e, com o tempo, degeneração dos tendões.
Causas da síndrome do impacto
As causas podem ser divididas em anatômicas e funcionais:
Anatômicas:
• Formato do acrômio: acrômios curvos ou ganchosos (tipo II ou III) aumentam o risco de impacto
• Esporões ósseos subacromiais ou acromioclaviculares
• Espessamento da bursa ou tendões
• Calcificações
Funcionais:
• Desequilíbrio muscular escapular
• Postura inadequada (ombros projetados anteriormente)
• Uso repetitivo do ombro acima da cabeça (atletas, pintores, dentistas)
• Lesões anteriores no ombro
Sintomas mais comuns
• Dor na face lateral e anterior do ombro
• Piora da dor ao levantar o braço ou ao deitar sobre o ombro afetado
• Perda de força
• Estalos ou sensação de “atrito”
• Limitação funcional para atividades simples, como vestir-se ou alcançar objetos altos
Estágios da síndrome do impacto (Neer)
A classificação de Neer ajuda a entender a progressão da lesão:
1. Estágio I – Edema e hemorragia da bursa e dos tendões. Reversível. Mais comum em jovens.
2. Estágio II – Fibrose e tendinite do manguito rotador. Lesão estrutural começa a se formar.
3. Estágio III – Ruptura parcial ou completa do tendão. Comum após os 40 anos. Pode exigir cirurgia.
Diagnóstico
Avaliação clínica:
• Testes específicos como:
• Teste de Neer
• Teste de Hawkins-Kennedy
• Teste do arco doloroso
Esses testes ajudam a reproduzir a dor do impacto e guiam o diagnóstico clínico.
Exames de imagem:
• Radiografias: para avaliar o formato do acrômio e presença de esporões
• Ultrassonografia: pode detectar bursite ou lesão do manguito
• Ressonância magnética: exame mais completo para avaliar tendões, bursa e espaço subacromial
Tratamento
Conservador (primeira linha):
A maioria dos pacientes melhora com tratamento clínico, que inclui:
• Medicamentos anti-inflamatórios
• Fisioterapia especializada: com foco em fortalecimento do manguito rotador e estabilizadores da escápula
• Correção postural
• Evitar atividades agravantes
• Infiltrações com corticoide: em casos mais resistentes, para controlar a dor e a inflamação
O sucesso do tratamento depende da adesão à fisioterapia e da correção da causa funcional.
Cirúrgico:
Indicado quando:
• O tratamento conservador falha após 3 a 6 meses
• Há lesões associadas (ruptura do manguito, artropatia acromioclavicular)
• Impacto anatômico severo com esporões ósseos
A cirurgia geralmente é feita por artroscopia, com:
• Descompressão subacromial
• Acromioplastia (remoção de parte do acrômio)
• Eventual reparo do manguito rotador, se estiver lesionado
Prognóstico
Com o tratamento adequado, a grande maioria dos pacientes melhora significativamente, seja com medidas conservadoras ou cirurgia. O mais importante é o diagnóstico precoce, para evitar a progressão para lesões irreversíveis do manguito rotador.
Conclusão
A síndrome do impacto subacromial é uma das principais causas de dor no ombro e, felizmente, tem tratamento eficaz na maioria dos casos. Um plano bem estruturado de reabilitação e, quando necessário, a cirurgia minimamente invasiva, podem restaurar a função e devolver qualidade de vida ao paciente. O acompanhamento com um ortopedista especializado em ombro é fundamental para definir a melhor abordagem.